O movimento revolução da moda como movimento ambientalista de justiça social

By Fashion Revolution

4 years ago

Este trabalho é de autoria de Vanessa de Mello Seibel, Jerônimo Siqueira Tybusch e Isabel Christine Silva de Gregory, e faz parte do Fórum Fashion Revolution 2019. As inscrições para o Fórum Fashion Revolution #Digital  estão abertas até 6 de julho: não perca. 

Os movimentos ambientalistas de justiça ambiental nascidos nos anos 60 foram inspiração para a promoção de uma contracultura de preservação ambiental. Nesse cenário, apresenta-se os movimentos ambientalistas e analisa-se a possibilidade de identificação do movimento Revolução da moda (Fashion Revolution) como movimento ambientalista de justiça ambiental e social e, assim, um gerador de contracultura também na indústria da moda.

Os movimentos ambientalistas de justiça ambiental nascidos nos anos 60 foram
inspiração para a promoção de uma contracultura de preservação ambiental. Nesse cenário, apresenta-se os movimentos ambientalistas e analisa-se a possibilidade de identificação do movimento Revolução da moda (Fashion Revolution) como movimento ambientalista de justiça ambiental e social e, assim, um gerador de contracultura também na indústria da moda.

Movimentos ambientalistas de justiça ambiental: breve análise

O movimento ambientalista multifacetado surgiu a partir dos anos 60 na maior parte do mundo, especialmente, nos Estados Unidos e no norte da Europa, está relacionado em grande medida com o núcleo de uma reversão de pensamento em relação à economia, sociedade e natureza, propiciando o surgimento de uma nova cultura (CASTELLS, 2018).

As ações coletivas, políticas e discursos ambientalistas são bastante diversificados, de modo que o movimento não pode ser considerado único. Desse modo, faz-se necessário indicar que ambientalismo pode ser conceituado como “todas as formas de comportamento coletivo que, tanto em seus discursos como em sua prática, visam corrigir formas destrutivas de relacionamento entre o homem e seu ambiente natural, contrariando a lógica estrutural e institucional atualmente predominante” (CASTELLS, 2018, p. 225). Ainda, com relação ao ambientalismo, importante definir que os movimentos sociais se caracterizam por três elementos constitutivos: identidade, adversário e objetivo (CASTELLS, 2018).

O movimento ambientalista possui quatro temas principais: a) relação estreita e ambígua com a ciência e tecnologia; b) o ambientalismo é um movimento com base na ciência; c) os conflitos sobre a transformação estrutural são sinônimos as luta pela redefinição histórica das duas expressões fundamentais e materiais da sociedade: o tempo e o espaço; e d) o controle sobre o tempo está no jogo na sociedade em rede, e o movimento ambientalista é provavelmente o protagonista do projeto de uma temporalidade nova e revolucionária (CASTELLS, 2018). Ainda, indica-se que o movimento ambientalista deve boa parte do seu sucesso ao fato demonstrar notável capacidade de adaptação às condições de comunicação e mobilização apresentadas pelo novo paradigma tecnológico (CASTELLS, 2018).

No que se refere à ideia justiça, Amartya Sen, a partir dos conceitos de niti e nyaia, busca uma teoria de justiça que seja capaz de orientar uma reflexão que estimule um engajamento efetivo das pessoas não apenas no cumprimento das leis, mas na
transformação da sociedade para que ela se torne mais próxima da própria justiça,
ao menos com uma exclusão das injustiças sentidas em um determinado momento como inaceitáveis (SEN, 2011).
Com efeito, a reivindicação por justiça ambiental – compreendida como tratamento justo e o envolvimento pleno dos grupos sociais, independentemente de sua origem ou renda, nas decisões sobre o acesso, a ocupação e o uso dos recursos ambientais em seus territórios – alterou a configuração de formas envolvidas nas lutas ambientais ao considerar o caráter indissociável de ambiente e sociedade politizando a questão do racismo e das desigualdades ambientais. Desse modo, a noção de justiça ambiental implica, pois, o direito a um ambiente seguro, sadio e preditivo para todos, onde o “meio ambiente” é considerado em sua totalidade, incluindo suas dimensões ecológicas, físicas construídas, sociais, políticas, estéticas e econômicas (ACSELRAD, MELLO e BEZERRA, 2009).

Através das lutas fundamentais sobre apropriação da ciência, tempo e espaço, os ecologistas inspiram a criação de uma nova identidade, a identidade biológica, como uma cultura da espécie humana como componente da natureza. Trata-se de uma busca por uma única identidade global proposta a todos os seres humanos independente de seus vínculos sociais, de gênero ou de religião (CASTELLS, 2018).

Fashion Revolution como movimento ambientalista

Nos dias atuais, o mercado da moda dita quase que diariamente novas tendências, modas sazonais e produz novas coleções que alimentam o consumo desenfreado. Trata-se do movimento mundial da indústria da moda chamado fast fashion. Contudo, o modelo de produção capitalista de moda rápida, em razão da aceleração da cadeia de produção, tem severos impactos ambientais. Segundo a Forbes, a indústria da moda é a 2º maior poluidora mundial; aproximadamente 70 milhões de barris de petróleo são usados a cada ano para produzir poliéster, que hoje é a fibra mais utilizada em roupas e cuja decomposição leva em torno de 200 anos (FORBES, 2019).

Somando-se a esse cenário, o desabamento do edifício Rana Plaza em Bangladesh, em 24 de abril de 2013, o qual causou mais de mil mortes de trabalhadores da indústria de confecção e deixou mais de 2.500 feridos, os quais trabalhavam para marcas globais, em condições análogas à escravidão (CALEIRO, 2019). Assim, foi criado o movimento global Fashion Revolution com o objetivo mostrar que a mudança na indústria da moda é possível e encorajar todos aqueles que estão em busca de um futuro mais ético e sustentável para a moda. De pronto, verifica-se que o Fashion Revolution atende as características determinantes de movimento social, eis que possui a) Identidade: cidadãos preocupados com os impactos ambientais da indústria da moda; b) Adversário: exploração na indústria da moda; c) Objetivo: transparência na indústria da moda. (CASTELLS, 2018).

Com efeito, o movimento foi inserido em uma sociedade de consumo, na qual o acesso à informação a partir da popularização da internet e tecnologias de informação promoveram a participação dos consumidores no ciberespaço, os quais deixaram de ser apenas receptores de informações e passaram a produzir e compartilhar informações e conteúdo. A partir disso, Manuel Castells observou o papel das mídias nas mudanças de atitude em relação a natureza diante dos estudos científicos acerca das mudanças climáticas e, consequentemente, a mudança de atitude do mundo empresarial, para transformar a cultura da natureza (CASTELLS,2015).

Desse modo, ao lançar o manifesto “pró-moda” nas redes sociais através da hashtag – #whomademyclothes, na tradução livre #quemfezminhasroupas, o Fashion Revolution incentiva a transparência no mundo da moda com o fim de evitar novas tragédias como no Rana Plaza e valorizar os trabalhadores da indústria moda, bem como promover uma produção com viés sustentável (FASHION REVOLUTION, 2019). Ainda no contexto da transparência, o movimento se utiliza das tecnologias de informação para inserir na grande mídia informação dos problemas ambientais e sociais com o fim de promover mudanças nos hábitos de consumo da sociedade.

Ademais, a convergência entre a preocupação com os trabalhadores da indústria da moda, por vezes submetidos a condições de trabalho extremas, e o inquietante impacto ambiental da cadeia de produção têxtil, ambos geralmente localizados em países em desenvolvimento, estão no âmago do movimento Fashion Revolution. Desse modo, a promoção do ambientalismo pode impactar a sociedade não apenas local, como a global, em busca de justiça social e ambiental. Segundo Manuel Castells, o movimento ambientalista se caracteriza pela introdução de uma nova temporalidade, na qual a relação entre o homem e a natureza seja um processo de evolução a longo prazo (CASTELLS, 2018).

Assim, o movimento Fashion Revolution ao lançar a Semana da Revolução da Moda, em que se fomenta o debate de formas de inserção de sustentabilidade no sistema de moda com respeito ao meio ambiente e gerações futuras, promoção da proteção aos trabalhadores da indústria da moda em toda a cadeia de produção, introduz essa nova temporalidade.

Conclusão

Não há dúvidas de que o movimento Fashion Revolution pode ser indicado como um movimento ambientalista de justiça ambiental e social, conforme as características e os principais temas de movimento ambientalista acima indicados. O engajamento do movimento pela inserção de sustentabilidade na indústria da moda e a promoção da transparência na cadeia de produção, como por exemplo o movimento #quemfezminhasroupas, transformam a sociedade cada vez mais atenta aos impactos causados pelo consumo desenfreado.

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