Falta de transparência, desmatamento e garimpo ilegal: o que está acontecendo na Amazônia?

By Fashion Revolution

1 year ago

 Em 2022, mais de 10.000 km² foram desmatados na Amazônia; o equivalente à derrubada de quase 3 mil campos de futebol por dia de floresta. Essa destruição ameaça a biodiversidade da região, o regime de chuvas, a saúde e a segurança alimentar de milhões de pessoas e intensifica ainda mais os efeitos da crise climática global. Mesmo em meio a esse cenário preocupante, nenhuma das 60 marcas analisadas no Índice de Transparência da Moda Brasil 2022 divulga compromissos de desmatamento zero e apenas 8% das marcas divulgam listas de seus fornecedores de matéria prima. As empresas têm a responsabilidade de olhar para suas cadeias de fornecimento, identificar os possíveis riscos e impactos aos direitos humanos e ao meio ambiente, e resolvê-los. A falta de visibilidade sobre esses tópicos abre brechas para que danos ambientais e sociais ocorram.

 

Baseado no ideal de que o desenvolvimento está intrinsecamente ligado ao crescimento econômico, aumento de capacidade produtiva e a geração de lucro, a riqueza natural, social e cultural da região amazônica segue ameaçada. Os povos indígenas, que atuam como protetores das florestas e escudos contra o desmatamento, estão tendo seus direitos desmantelados e sua população gravemente impactada pelo avanço da pecuária, da agricultura e da mineração.

 

A seguir, trazemos um pouco do que está acontecendo na Amazônia e como este cenário devastador se relaciona com a moda.

 

#doquesaofeitasminhasjoias e a tragédia Yanomami

 

Dados do Map Biomas indicam que, entre 1985 e 2020, a área minerada no Brasil cresceu seis vezes. A expansão do garimpo coincide com o avanço sobre territórios indígenas e unidades de conservação. De 2010 a 2020, a área ocupada pelo garimpo dentro de terras indígenas cresceu 495%.

 

O impacto do desmatamento, da destruição dos corpos hídricos e da extração ilegal de ouro fica evidente no território Yanomami. Este povo indígena que vive no Norte da região Amazônica se tornou alvo de uma grave crise humanitária. Além de diversos impactos ambientais, os Yanomami enfrentam fome, desnutrição, um disparo nos casos de malária e outras doenças infectocontagiosas, contaminação por mercúrio e um aumento na violência contra os indígenas cercados pelo garimpo ilegal.

 

A rastreabilidade e transparência da cadeia produtiva do ouro e de outros metais preciosos é precária. O minério extraído clandestinamente de terras indígenas brasileiras pode terminar em jóias ou filamentos eletrônicos usados ao redor do mundo. Depois de ter sua origem real encoberta, o metal se mistura com o ouro legalizado nas refinarias, entra na cadeia internacional e pode ser adquirido por grandes empresas globais sem que elas consigam rastrear sua real origem.

 

A dificuldade de rastreabilidade só reforça a importância de as empresas realizarem robustos processos de devida diligência de direitos humanos e ambientais em suas cadeias produtivas.

 

É preciso transparência em toda a cadeia de valor da moda. Se questionar sobre a origem do que vestimos vai além de somente nossas roupas e deve englobar também nossos acessórios. Devemos perguntar para as marcas #doquesaofeitasminhasjoias

 

Novo projeto de infraestrutura pode piorar a situação local

 

Outro exemplo de como a busca incessante pelo lucro e pelo aumento da eficiência produtiva pode impactar negativamente o meio ambiente e as comunidades locais trata-se de um projeto que está previsto para ser votado no Supremo Tribunal Federal brasileiro no final de maio: a Ferrogrão. A aprovação do projeto pode acentuar ainda mais a situação crítica de devastação da Amazonia.

 

A Ferrogrão é um projeto para construção de uma ferrovia de quase mil km para escoamento de grãos do Mato Grosso ao Pará. Um dos objetivos do projeto de infraestrutura é aumentar a eficiência econômica na distribuição e armazenamento de grãos, face à expansão da fronteira agrícola brasileira.

O projeto é vendido como túnel verde, mas privilegia os interesses do mercado do agronegócio em detrimento da preservação do meio ambiente e da garantia de direitos étnicos e territoriais.​ Da maneira como foi planejada, a Ferrogrão atravessa o Parque Nacional do Jamanxim, uma Unidade de Conservação de proteção integral . A ferrovia pode ainda acirrar conflitos fundiários e potencializar impactos socioambientais já sofridos na região. Pelo menos três etnias seriam impactadas pela construção da ferrovia (Munduruku, Kayapó, Panará) e existe o risco de desmatamento de mais de 230 mil hectares.

Esses e outros impactos como potencial de acelerar a expansão da fronteira agropecuária e a intensificação da produção de commodities agrícolas baseada em latifúndios monocultores com concentração fundiária já foram denunciados pelos povos indígenas.

 

Transparência, reflexão e diálogo

 

Em meio a esse cenário de preocupante devastação, no qual a biodiversidade e as comunidades locais seguem ameaçadas, precisamos que as marcas de moda se posicionem e sejam transparentes sobre a origem e rastreabilidade de seus produtos.

 

Precisamos de transparência sobre de onde vem o que consumimos. Precisamos repensar a lógica do lucro e de um modelo de desenvolvimento que considere a natureza e a cultura de seus povos como valor e elementos capazes de gerar bem-estar socioeconômico no longo prazo. Precisamos incluir os povos afetados no diálogo por melhorias, consultando-os antes que projetos possam ser aprovados. Precisamos de fiscalização e políticas públicas que favoreçam a Natureza e as pessoas.

 

Te convidamos a perguntar para as marcas #doquesaofeitasminhasroupas e acessórios, demandando transparência sobre os processos produtivos. Você pode também fazer doações para auxiliar o povo Yanomami e assinar este abaixo assinado contra a construção da Ferrogrão.