Transparência é tendência: Índice de Transparência da Moda Brasil

By Fashion Revolution

5 years ago

Acaba de ser lançado, em São Paulo, o relatório “Índice de Transparência da Moda Brasil”, co-realizado pelas equipes brasileira e global do movimento Fashion Revolution, para analisar em que medida vinte grandes marcas e varejistas de moda estão comunicando ao público sobre suas cadeias produtivas – e incentivar uma maior prestação de contas em relação aos impactos socioambientais do setor.

 

 

A implementação e desenvolvimento da pesquisa foram feitos pela equipe do Fashion Revolution Brasil, em parceria técnica com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGVces), e teve como base as informações disponibilizadas em canais como sites e relatórios de responsabilidade social corporativa, ou de sustentabilidade; e no questionário com quase 200 perguntas, enviado aos representantes das marcas, com o objetivo de estimular um processo participativo.

A equipe compilou e avaliou a disponibilidade de informações oferecidas pelas empresas em cinco categorias: “Políticas e Compromissos”, “Governança”, “Rastreabilidade”, “Conhecer, Comunicar e Resolver” e “Tópicos em Destaque”. As seguintes marcas foram selecionadas para a análise, de acordo com critérios de diversidade setorial, e representatividade no segmento de atuação: Animale, Brooksfield, C&A, Cia. Marítima, Ellus, Farm, Havaianas, Hering, John John, Le Lis Blanc Deux, Malwee, Marisa, Melissa, Moleca, Olympikus, Osklen, Pernambucanas, Renner, Riachuelo e Zara.

Em relação aos resultados, a gestora do projeto e diretora educacional do Fashion Revolution Brasil, Eloisa Artuso, explica que há ainda um longo caminho do setor rumo à transparência: “As informações sobre as cadeias de fornecimento ficam frequentemente escondidas nos sites, hospedadas em sites externos, em relatórios anuais de mais de 300 páginas ou simplesmente não estão disponíveis. Como é possível tomar melhores decisões sobre o que compramos, quando a informação é totalmente ausente ou apresentada de maneiras tão variadas e difusas?”

Descobertas rápidas

 

Dentre as 20 grandes marcas e varejistas pesquisadas, oito foram consideradas não transparentes, já que obtiveram pontuação final igual a 0%. Isso não significa, necessariamente, que elas não tenham boas práticas e iniciativas, mas que, no momento da pesquisa, não compartilhavam publicamente nenhuma informação sobre os temas investigados.

O Índice de Transparência da Moda é um projeto iniciado em 2016 pelo Fashion Revolution global, e teve a sua terceira edição publicada em abril de 2018, com a análise de 150 marcas de moda internacionais – que obtiveram uma pontuação geral média de 21% (52 de 250 pontos possíveis). No Índice brasileiro, a pontuação geral média foi 17%, ou 41 de 250 pontos possíveis).

Quatro marcas que também foram analisadas pelo Índice global de 2017 – C&A, Casas Pernambucanas, Renner e Zara – revelaram um crescimento médio de 38% em seus níveis de transparência, de um ano para cá. Esse dado pode ser uma indicação de como o relatório estimula, na prática, que as marcas publiquem mais informações socioambientais.

Algumas das conclusões observadas nos relatórios do Índice global, também se refletiram na análise brasileira; entre elas, a maior visibilidade dada a valores e crenças das marcas, em detrimento de ações e resultados concretos. Um exemplo disso é que as 12 respondentes pontuaram em políticas relativas aos direitos humanos, o combate à discriminação e ao trabalho forçado ou análogo a escravo e infantil, mas apenas sete pontuaram na seção de rastreabilidade na cadeia de fornecimento.

Em relação a práticas de eficiência ambiental, somente duas marcas informam sobre políticas quanto a emissões de carbono e redução no uso de energia, três revelam políticas sobre proteção da biodiversidade, seis publicam políticas sobre o tratamento de efluentes, e seis divulgam alguma política para o gerenciamento de resíduos têxteis e reciclagem.

A intenção é que o Índice alcance o maior número de downloads, através do link divulgado abaixo, e torne-se uma ferramenta útil para todos, despertando um olhar crítico sobre a transparência atual e a evolução das marcas ao longo do tempo.  “Queremos enfatizar que o leitor use as descobertas do Índice para refletir sobre as tendências gerais de transparência e os padrões de divulgação de informações, em vez de se concentrar em qual marca pontuou mais do que a outra”, finaliza Eloisa.

 

Aron Belinky, coordenador da equipe de pesquisas da FGVces que atuou no projeto, ressaltou o potencial do relatório como catalisador de mudanças: “Esperamos que a primeira edição do ITM Brasil encoraje as empresas locais a comunicar a forma como gerenciam os seus negócios e os impactos de suas operações, e também a abrir o diálogo com seus públicos de interesse. Que iniciativas como essa sirvam de modelo e inspiração a outros setores da economia brasileira, com desafios tão abrangentes quanto os da indústria da moda.”

O Índice de Transparência da Moda Brasil teve apoio institucional da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex) e é uma iniciativa financiada globalmente pelo Instituto C&A. O projeto está aberto para cofinanciamentos, desde que observadas as medidas necessárias para garantir sua autonomia e neutralidade. O evento de lançamento contou com a presença de Carry Somers, cofundadora do movimento Fashion Revolution, que estará no Brasil até o final do dia 11 de outubro, conversando com a mídia sobre o projeto.

Baixe o relatório em: http://bit.ly/baixeoindicebr