O que fazer com as máscaras depois que isso tudo passar

By Fashion Revolution

4 years ago

por Júlia Bezerra*

Baratas, fáceis de fazer e acessíveis, as máscaras são nossas grandes aliadas no combate à pandemia do coronavírus. Só na cidade de São Paulo, segundo dados do governo do Estado, foram produzidos 2 milhões de máscaras de tecido em Escolas Técnicas Estaduais (ETCs), entre abril e maio, para distribuir à população carente. Sem contar as milhares de máscaras confeccionadas diariamente por artesãos, costureiros e adeptos do “faça você mesmo”. 

Para muitos, o acessório virou um item fashion, e já é comum uma pessoa ter várias máscaras em casa, de estampas e tecidos diferentes, para combinar com os figurinos. A estilista Alessandra Ponce Rocha, autora de Alinhavos – O Futuro do Planeta Está em seu Guarda-Roupa, primeiro livro no Brasil sobre moda sustentável para crianças, publicado pela editora Panda Books, fez uma conta bastante simples e chegou a um número assustador. Imaginando que cada habitante de São Paulo tenha cinco máscaras diferentes, podemos considerar que, só na cidade, já foram gastos 439.698 metros quadrados de tecido. Com todo esse tecido, daria para forrar o gramado de 68 campos de futebol!

Esse número impressionante só tende a crescer. A produção de máscaras de tecido deve seguir em ritmo acelerado enquanto durar a pandemia, por um motivo muito simples: elas têm vida útil curta. De acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), as máscaras devem ser descartadas depois de 30 usos, ou sempre que o tecido apresentar furo ou desgaste. O que fazer com essa montanha de tecido depois que isso tudo passar? 

“Nós, enquanto consumidores de máscaras, poderíamos cobrar das confecções que as produzem que as recebessem de volta para que sejam encaminhadas a indústrias de reciclagem”, sugere Alessandra. A Renovar Têxtil, que coleta resíduos têxteis na região do Brás e Bom Retiro, centro de São Paulo, é uma das empresas que recebem doação de tecido para desfibramento, processo que torna a fibra reutilizável para a produção de novos tecidos. Eles não exigem quantidade mínima para doação, mas precisam ter certeza de que os materiais são passíveis de reciclagem. 

Tecidos como algodão, poliéster e malha costumam ser compatíveis com o processo, mas Alessandra lembra um detalhe importante: “As máscaras já utilizadas devem ser devidamente higienizadas, com o laudo da lavanderia, para que haja a garantia de que não contaminarão os demais materiais”. O laudo é emitido por lavanderias industriais e, por isso, esse exemplo de doação se aplica a ações promovidas pelas confecções que já se utilizam desses processos. “Outro ponto importante é que as máscaras sejam doadas apenas com a parte têxtil”, aponta a estilista. “A costura e materiais extras como elásticos precisam ser retirados”.

Uma ideia mais caseira é utilizar os tecidos das máscaras descartadas para a confecção de artesanatos como fuxicos e colchas de retalhos. “São atividades que podem ser prazerosas, não demandam grandes quantidades de tecidos, e promovem a conexão entre os membros da família”, indica a estilista. “Como a recomendação é que fiquemos em casa até que tenhamos a epidemia controlada, é mais um ótimo passatempo!”. Para ambas as atividades, é imprescindível que as máscaras estejam higienizadas, seguindo as mesmas recomendações de limpeza já praticadas no dia a dia e que fazem parte do protocolo da Anvisa: deixar a máscara imersa numa solução com um litro de água e 10 mililitros de água sanitária durante 40 minutos.

*Júlia Bezerra é jornalista, formada pela Faculdade Cásper Líbero. Atua no mercado editorial como ghost writer e na gestão de Comunicação da editora Panda Books. Em 2016, lançou seus primeiros livros autorais: O Fino da BossaFunk e Manguebeat, da Coleção Movimentos Musicais.