Ativismo na moda e referências negras: como ambos se conectam 

By Fashion Revolution

4 years ago

por Taya Nicaccio*

Segundo o Dicionário UNESP do português contemporâneo a palavra ativismo significa luta política – assim como um ativista é o ser militante político, participante ou atuante na política – neste caso, alguém que busca por transformações sistêmicas, como por exemplo na indústria da moda, que em sua maioria coloca trabalhadores numa posição de invisibilidade e ou informalidade nas relações de trabalho, principalmente quando pensadas nas grandes confecções do vestuário. A cerca disso, a indústria da moda ainda é uma das maiores poluidoras do planeta, desde a extração da matéria-prima até a sua chegada em nossas casas, sem ausentar o descarte indevido de resíduos têxteis.

O ativismo pode e deve ser uma grande ferramenta de transformação nas concentrações problemáticas e sociais que empregam o sistema de moda, seja ele fruto de uma mobilização individual ou coletiva, todos nós devemos praticar o ativismo na moda e em nossas práticas cotidianas também, afinal, ele não se restringe à determinados grupos sociais. Entretanto, para além dessas questões à também o racismo, o mesmo que estrutura todas as relações sociais e na moda pode se manifestar através de ações e comportamentos estruturais – sob os recortes de gênero, raça e classe – principalmente quando o assunto são mulheres não-brancas em uma cadeia produtiva.

Podemos ser autores de nossas próprias mudanças ativistas, repensando novos hábitos de consumo consciente – como por exemplo perguntando #QuemFezMinhasRoupas ou #DoQueSãoFeitasMinhasRoupas, e lutando por uma moda justa e humana, visto que o ativismo na moda desempenha um papel essencial para que essa transformação sistêmica de fato aconteça e se torne possível para todos. Pensando nos processos colonizatórios e nas próprias instituições de cursos superiores em moda, se torna necessário refletir e repensar como as histórias têm sido contadas dentro desses espaços, como também uma nova prática ativista em alternativa de cocriar novas narrativas criadas por, e para pessoas negras, para além da posição de subalternidade que o racismo nos colocou e dos estereótipos que reduzem nós negros à escravidão. É necessário que essa manifestação seja introduzida e adepta dentro do sistema da moda.

A razão pela qual não vemos pessoas negras e indígenas sendo apresentadas como autoras e referências nas instituições de ensino – não por inexistência e sim, pelo racismo e a ausência da escuta – concedeu espaço para a minha motivação em produzir informação e colocar determinadas subjetividades em pauta, com o principal objetivo de criar conexão, de maneira significativa, para engajar e direcionar o discurso político e racial dentro dos espaços pertencentes à moda, portanto, introduzir pessoas negras e indígenas para representá-las como referências à outros indivíduos, sendo essa uma forma de identificação. Uma referência pode ser um relato ou relação, bem como tudo aquilo que serve como orientação, localização ou identificação para com o indivíduo – assim é o ativista que busca por transformações – juntos, o ativismo na moda e referências negras se conectam para enfim comunicar uma grande rede de manifestação individual e coletiva, que independe de um grande ato ou não, assim sendo uma ação dentro das possibilidades de cada pessoa. 

O ativismo na moda engrandece perspectivas diversas – sob diferentes olhares – mas o ser ativista está presente na simplicidade e nas ações que devem estar sempre alinhadas entre a busca por transformações sociais, direitos humanos e a luta antirracista, especialmente quando pensamos em uma mudança sistêmica por uma moda igualitária. É essencial que o ativismo caminhe rumo a uma moda antirracista, atribuindo-se à práticas individuais – mas só efetivas quando coletivas. Portanto, como mulher negra e estudante de moda, o meu ativismo no sistema da moda funciona sob uma perspectiva de gênero e permeia-se entre as minhas referências negras e indígenas, ao acesso à discussões sociais – gênero, raça, classe – e as diversas maneiras de comunicar identidades, como também atua em todos os espaços pertencentes às minhas vivências. 

 * Sou graduanda de Moda na Faculdade FMU/FIAM-FAAM, técnica em Modelagem do Vestuário, pela Etec Tiquatira. Atuo como modelo, integrante da Galera CH, na revista CAPRICHO e no Instituto Fashion Revolution sou voluntária na equipe de Comunicação. 

Arte: Taya Nicaccio